Por que fazer Gestão do Conhecimento nas instituições da Justiça?

“A atividade judiciária baseia-se no conhecimento e exige o acesso à informação e também a capacidade de usar esse conhecimento para agir ou inovar na emissão de juízos. Assim, a gestão do conhecimento judicial contribui para a modernização da Justiça, para estabelecer métodos de trabalho mais eficientes no exercício da função judicial” [1].

A citação extraída do site do Centro de Documentação Judicial, do Conselho Superior da Magistratura da Espanha, órgão responsável pelos serviços de Gestão do Conhecimento do Judiciário Espanhol, não deixa dúvidas de que a Gestão do Conhecimento deve integrar a estratégia das organizações.

Um dos pilares da gestão estratégica é o entendimento no sentido de que a produção do conhecimento é o motor da nova Economia do Conhecimento em que estamos inseridos. Esse entendimento tem como pressuposto que as organizações possuem diferentes tipos de conhecimento e que cada um pode proporcionar a base para uma vantagem competitiva ou para o aprimoramento das suas práticas.

O conhecimento constitui um ativo estrategicamente relevante, quando amplamente compartilhado dentro da organização, armazenado em uma base de conhecimento e disseminado para utilização pelos colaboradores no desenvolvimento de novos produtos, serviços ou sistemas. Assim sendo, gerenciar e disseminar tal conhecimento estão entre os maiores desafios das organizações públicas e privadas.

Como enfrentá-lo? Como as organizações podem desenvolver estratégias para identificar e codificar o conhecimento dos seus colaboradores e equipes de trabalho e para torná-lo acessível a todos? Como capturar e disseminar o conhecimento dos diferentes projetos e programas de trabalho?

Nas organizações da Justiça, a gestão tem a duração máxima de dois anos. A mínima pode ser de 40 dias, dois meses, encerrada com a aposentadoria compulsória do ministro ou desembargador eleito pelos seus pares para ocupar a presidência do tribunal, como uma última homenagem. Essa alta rotatividade de gestores, que quase sempre se dá em todos os níveis hierárquicos, representa a descontinuidade dos projetos, que o planejamento estratégico tenta minimizar. No entanto, não basta levar o projeto a termo, muitas vezes, é preciso transformá-lo em um programa permanente de trabalho que gere resultados duradouros e melhorias contínuas.

Lamentavelmente, programas de gestão do conhecimento não fazem parte dos projetos e práticas das organizações da Justiça. Embora as suas instituições utilizem processos intensivos de inovação tecnológica, como por exemplo, os sistemas de processo eletrônicos, não têm-se preparado para um dos maiores desafios impostos às organizações da sociedade do conhecimento, que é o desenvolvimento de práticas sistemáticas para administrar a sua autotransformação. As organizações precisam estar aptas para abandonar o conhecimento que se tornou obsoleto e aprender a criar o novo, com a melhoria contínua de todas as atividades.

O perfil das organizações da Justiça está mudando em função das novas tecnologias. É preciso mudar também as características daqueles que nelas trabalham. Agora, o perfil do servidor demanda habilidades que antes não faziam parte dos seus requisitos. Programas de Gestão do Conhecimento poderão auxiliar na aceleração do processo de desenvolvimento dos servidores para o desempenho de atividades com uso intensivo de conhecimento, de forma a contribuir para a relocação daqueles que desempenhavam atividades extintas com o processo eletrônico.

Além disso, programas de gestão do conhecimento podem acelerar a disseminação de boas práticas e ampliar a confiabilidade nos programas de trabalho, por meio da coleta sistemática de informações e sua disponibilização em repositórios de conhecimento.

Onde encontrar os relatórios dos diferentes projetos já realizados pelo CNJ desde 2005, e os resultados alcançados pelas metas de nivelamento do Poder Judiciário definidas em 2009? Assim como no CNJ, na maioria dos órgãos do Judiciário os resultados do trabalho das instituições não estão facilmente acessíveis nos sites ou em repositórios institucionais.

Os resultados da última pesquisa “Índice de Confiança na Justiça”, feita no primeiro semestre de 2013 pela Escola de Direito da FGV São Paulo, indicam que apenas 34% da população confia no Judiciário, segundo dados apresentados pelo professor Oscar Vilhena em palestra no VII Encontro Nacional do Judiciário, em Belém (PA). Ele considera que os esforços implementados pelo Poder Judiciário nos últimos anos para o aumento da eficiência da Justiça — como a criação de metas voltadas para a produtividade — ainda não se traduziram em um aumento de confiança dos brasileiros no Judiciário.

Um dos objetivos do gerenciamento do conhecimento é o de torná-lo mais visível, de contribuir para maior transparência das organizações públicas. Programas de Gestão do Conhecimento que resultem na criação de repositórios do conhecimento organizacional podem contribuir para que os esforços empreendidos pelas instituições da Justiça sejam compreendidos pela sociedade e tragam benefícios diretos aos cidadãos.


[1] GESTIÓN del conocimiento judicial. Site Poder Judicial España. Temas. Disponível em: http://www.poderjudicial.es/cgpj/es/Temas/Documentacion_Judicial/Gestion_del_conocimiento_judicial?perfil=3  acesso em 9/12/2013.